Asgalon
Aquela Que Tudo Criou
Asgalon moldou da ausência a rocha que pulsa e sustém mundos.
Seu nome vibra no centro da Esfera e ecoa nos seis planos.
Não tem forma, não tem rosto, pulsa em toda matéria viva.
Druidas louvam em silêncio, zelando pela existência.
Ela é a semente, o solo, o fruto e o fim do que regressa.
Nenhum Deus nasceu sem ela, nenhum Horror pode a atingir.
Una, velada, eterna — é Asgalon, origem do ser.
— Dwali "Escriba" Gamilîm, Artefateiro da Oficina Rochosa de Azan
Antes do tempo, era Asgalon.
Asgalon é a fonte viva da Criação, a Sobrepoder primordial que moldou a própria existência conhecida onde antes não existia nada. Tudo o que é, o que foi e o que será, provém de seu desejo profundo de manifestar ordem e beleza a partir do vazio absoluto. Ainda que agora ela esteja fundida à própria Criação, sua presença pulsa em cada sopro de vida, em cada folha que nasce, em cada vida ceifada e em cada memória de conexão com o todo. Adormecida, mas nunca ausente, Asgalon é cultuada como a Deusa Mãe e Totalidade. Seu culto é discreto e não costuma estar presente nas grandes capitais do Continente, mas sua existência é uma celebração da continuidade e da ciclicidade da Criação.
Aparência e Representação
Ao que se sabe, Asgalon não se manifesta materialmente para os mortais. Ela é tudo que existe.
Suas representações costumam ser de uma figura feminina reclinada, de olhos cerrados e feições serenas, parcialmente coberta por musgo, raízes ou mesmo Cristais de Mana. O ventre da Deusa Mãe é sempre representado como transparente ou entalhado, revelando dentro dele paisagens inteiras: montanhas, florestas, rios, ou até representações miniaturizadas do povo que criou a representação. Obras mais sofisticadas esculpem Veios de Mana percorrendo seu corpo, especialmente a barriga, o peito e as mãos. Em algumas regiões, essa imagem é talhada em colinas ou relevos naturais, aproveitando a paisagem para compor sua forma.
Outra representação comum é a de uma figura feminina sem rosto definido, esculpida ou pintada no ato de soprar. O sopro é retratado como uma espiral de estrelas, partículas, formas e seres — dragões, Deuses, montanhas, rios e até palavras em espiral sendo expelidos de sua boca ou mãos. O corpo da deusa se dilui no céu, na terra ou no vazio do fundo da imagem, representando que ela é o próprio cosmos. Em algumas versões, seu rosto está coberto por um véu de Luzes, simbolizando o mistério de sua ausência.
História
No início não havia forma, nem tempo, nem nome. Havia apenas Asgalon, a Totalidade.
Não havia Criação, pois tudo já era — indistinto, infindo, uno. A própria existência era o corpo adormecido da Sobrepoder.
Consumida por um impulso desconhecido — talvez Destino, talvez Inspiração — Asgalon separou de si mesma a Criação, inaugurando a Esfera que viria a conter o mundo e todos os conceitos. Este primeiro sopro moldador originou uma onda caótica de formas primordiais: os Horrores Ancestrais, entidades disformes, instintivas e desprovidas de propósito. Muitos crêem que tais seres são anteriores à própria Asgalon ou, ao menos tão antigos como ela, como espelhos escuros de sua vastidão insondável.
Ao perceber que a Criação exigia mais do que o Acaso, a Deusa Mãe moldou os planos das essências:
- Elementa, berço dos princípios da existência, o Ar, a Terra, a Água e o Fogo.
- Aparência, onde as ideias tomam forma com a Consciência, a Emoção, a Realidade e o Sonho.
- Sombra, versão oculta do real onde o Espaço, o Vazio, a Eternidade e o Tempo se esbanjam.
- Lumiar, lar da Ordem, do Caos, da Virtude e do Vício.
- E por fim, a Matéria, sua obra-prima, o mundo dos mortais, interligado aos outros planos por Veios Mana — o sangue da Criação e onde o Destino, o Acaso, a Inspiração e o Sacrifício guiam a tudo e todos.
- Quatro Soberanos Primordiais, regurgitados para guardar Elementa.
Foi então que os Deuses desceram à Matéria e a lapidaram com rios, relevos e nações. Encontraram ali criaturas já formadas por Asgalon — dragões de poder ancestral e os Povos Naturais, seres sapientes como os gigantes, que desde os primórdios a cultuavam. A todos habitantes da Matéria, Asgalon concedeu uma alma, um dom sagrado que une finitude e liberdade, encerrando nos mortais tanto seu começo quanto seu fim.
Mas a eternidade pesa, mesmo sobre a Totalidade. Segundo o Códice de Todos os Poderes, há cerca de um milhão de anos, Asgalon, exausta de intervir, adormeceu. Não como alguém que foge, mas como alguém que confia. Mergulhou na própria Criação e se fez matéria, mana, céu e silêncio. Tornou-se o mundo, o espaço, o tempo — e nunca mais falou aos Primogênitos ou aos mortais.
Desde então, Asgalon é e não é. Seus templos são silenciosos. Seus devotos, fiéis àquilo que se move mesmo quando está imóvel. Presente em tudo, ausente em si.
Dogma
Antes do início, era Asgalon.
Antes do tempo, era Asgalon.
Antes da forma e do fim, era Asgalon.
E tudo o que é, ainda é Asgalon.
Mantra da Criação, conforme registrado no Códice de Todos os Poderes
Texto Sagrado: Códice de Todos os Poderes.
Cor Sagrada: Âmbar Terroso.
Criatura Sagrada: Baleia.
Assim ensinam os Círculos. Assim sussurram os ventos nas clareiras e os rios entre as rochas. A fé em Asgalon não é a adoração de um ser distante ou a obediência cega a um código rígido, mas o reconhecimento de que toda existência brota de uma única e eterna fonte: a Sobrepoder, consciência ancestral que se fez Criação.
Asgalon não possui forma nem nome fixo, e mesmo o nome que usamos — herdado dos Povos Naturais — é apenas um som para conter o que não pode ser contido. Sua vontade não é imposta, mas intui-se na harmonia do mundo natural, no fluir dos ciclos, no crescimento silencioso das árvores e no rugido das ondas. Asgalon não exige templos, pois seu corpo é o mundo, e seu altar está em cada cume, gruta, bosque e praia sagrada.
Aqueles que seguem Asgalon não governam, não mandam, não salvam. Eles escutam. São guardiões dos ritmos naturais, intérpretes da vontade da Sobrepoder que pulsa na terra viva. É por isso que seus seguidores são chamados muitas vezes de não de sacerdotes, mas de "ouvintes do silêncio".
As Cinco Verdades Não Escritas
Nem todo conhecimento foi gravado em pedra. Diz-se que as Cinco Verdades são lembranças da própria vontade de Asgalon, gravadas nas raízes do mundo, percebidas por aqueles que escutam com a alma, não com os ouvidos. Essas Verdades não exigem culto, mas consciência. Quem as compreende, honra o propósito da Criação sem precisar de altar ou templo. Pois Asgalon não grita: ela sussurra no ciclo das estações, na liberdade dos viventes e na beleza da mudança.
- "Nada floresce para sempre, mas tudo que cai aduba o que virá". O declínio não é derrota, mas uma dádiva ao ciclo. A planta que murcha alimenta o solo; a sabedoria do velho guia o novo. Crescer é doar-se ao agora. Definhar é preparar o amanhã.
- "Criar sem destruir é acúmulo; destruir sem criar é vazio." As mãos de Asgalon constroem com o mesmo gesto que desfaz. O mundo só respira porque algo sempre parte para que outra coisa venha. Sábio é aquele que aprende a dar fim com o mesmo amor com que dá início.
- "O sagrado está tanto no grão de areia quanto no firmamento." Não busques Asgalon apenas nos céus, ela também habita a raiz que se rompe, o vento que hesita, a lágrima que cai. O que é transcendente pulsa no imanente, pois tudo é parte da mesma vastidão.
- "A vontade que ignora a matéria se quebra; a matéria que ignora a vontade apodrece." Não basta querer, é preciso enraizar o querer no real. Nem basta ser, é preciso desejar crescer. A harmonia entre intenção e substância sustenta toda obra duradoura.
- "Viver é um pacto com a morte e morrer é um retorno ao todo." Toda alma é livre, mas ao nascer, aceita os limites da carne. E quando morre, entrega-se de volta à vastidão de onde veio. A vida é chama emprestada; a morte, o sopro que a devolve.
Proibição
"Jamais interrompa o renascimento da vida."
O ciclo da existência é sagrado e inviolável. A vida renasce incessantemente, tecendo a continuidade que sustenta a Criação. Interromper esse fluxo é atacar a própria essência de Asgalon, desestabilizando o equilíbrio que mantém a Esfera. Cada gesto, cada sopro de vida deve ser respeitado e preservado, pois no renascer constante reside a esperança e a ordem do mundo. Quem ousar impedir esse processo estará condenando-se à ruína eterna, pois os Círculos punirão severamente toda ação que busque sufocar o pulso vital do universo.
Círculo de Asgalon
Sacerdotes: Filidhe | Filidhes.
Seguidores: Asgalita | Asgalitas.
Gesto Sagrado: Sopro da Mãe.
Arma Favorita: Foice — Colheita da Criação.
O Círculo de Asgalon é mais do que uma organização religiosa, é o corpo vivo da devoção à Deusa Mãe, é a alma do próprio Continente. Considerado a manifestação terrena da vontade da Sobrepoder criadora, o Círculo não se estrutura como uma religião tradicional, mas como uma rede pulsante de comunidades consagradas aos ritmos eternos da existência. Sua organização é orgânica, adaptada aos ciclos naturais, e seu funcionamento depende menos de uma estrutura rígida do que de uma profunda escuta das necessidades da Matéria.
Hierarquia
Ordenamento: 1. Arquidruida. 2. Ollamdhe. 3. Druida. 4. Filidhe. 5. Cruinne.
No topo do Círculo de Asgalon está o arquidruida, uma figura enigmática e rara, cuja localização é conhecida apenas pelos seus emissários: os Dez Ollamdhes. O arquidruida não governa por leis escritas, mas por interpretações dos ciclos naturais — revelações recebidas em silêncio profundo e transmitidas aos seus emissários.
Logo abaixo estão os ollamdhes. Cada um é o guardião de um dos dez Aspectos Primordiais da Deusa Mãe: Crescimento, Definhamento, Criação, Destruição, Imanência, Transcendência, Matéria, Vontade, Vida e Morte. São eles que percorrem Panorica como juízes, oráculos e executores, levando a voz da Totalidade aos quatro cantos do Continente.
Na espinha dorsal da organização estão os druidas, cuidadores dos Círculos Regionais, responsáveis por preservar as Zonas Primordiais mais importantes e celebrar os rituais sazonais.
Cada druida orienta os filidhes, sacerdotes locais encarregados da vida espiritual cotidiana das comunidades. Os filidhes cuidam dos Círculos Locais, atuando como curandeiros, conselheiros e intérpretes dos sinais de Asgalon. A eles se juntam os cruinnes, aprendizes que se dedicam a estudar os ciclos naturais, preservar os cantos sagrados e servir com humildade e escuta.
Locais de Culto
Os templos do culto a Asgalon não são exatamente construções, são espaços despertos da Criação, lugares onde o mundo fala por si, e onde a presença da Deusa Mãe pulsa mais fortemente. Um Círculo de Asgalon está sempre conectado ao mundo natural, fundido à paisagem, moldado com o mínimo de intervenção e o máximo de reverência. A estrutura mais comum de um Círculo é a circunferência de megalíticos dispostos em torno de um centro vivo: uma árvore ancestral, uma fonte cristalina ou uma rocha sagrada. Os megalíticos nunca são talhados com precisão — são recolhidos da terra e dispostos conforme os ciclos sagrados locais. No coração de um Círculo repousa uma representação da Deusa Mãe com seu ventre translúcido ou entalhado. Em rituais, é comum acender pequenas chamas nas cavidades da imagem, como se a vida acendesse dentro dela.
Muitas vezes existem Veios de Mana, naturais ou cultivados, serpenteando discretamente pelo chão do Círculo, marcados por musgos luminescentes. Durante o amanhecer ou o entardecer, é possível vê-los brilhar como artérias vivas da Criação. Ao redor do Círculo, cresce uma vegetação sagrada — samambaias, flores noturnas, vinhas medicinais — todas cuidadas pelos filidhes e cruinnes, e jamais arrancadas sem motivo justo. Não há bancos, púlpitos ou muralhas: o templo é o próprio mundo, e o altar é o silêncio.
Seus templos são também chamados de Círculos e se dividem conforme sua respectiva antiguidade. Arqueo-Círculos são os mais antigos com, pelo menos, 10 mil anos de existência. Um Meso-Círculo é um local de culto já milenar e os Neo-Círculos são os mais recentes.
Os santuários de Asgalon são espaços ainda mais íntimos e discretos do culto, encontrados nos lugares onde a natureza parece respirar em paz. São nascentes escondidas entre pedras, clareiras protegidas por árvores centenárias, cavernas tomadas por raízes vivas ou mesmo topos de colinas que tocam o céu.
Um santuário não é feito: ele é encontrado. Diz-se que um filidhe ou cruinne só reconhece um verdadeiro santuário quando sente nele o Sopro da Criação — um calor inesperado na brisa, uma quietude que cala os pensamentos, ou o surgimento de uma flor incomum onde ninguém a plantou. O único símbolo presente nesses lugares é o Glifo da Mãe: um círculo com uma folha em seu interior, desenhado com pigmento natural, gravado na rocha ou formado por pedrinhas, folhas ou conchas. Esse símbolo marca o lugar como sagrado, não para limitar seu uso, mas para lembrar que ali se ouve melhor o coração do mundo.
Ritos Sagrados
Os rituais regulares do Círculo são chamados de Espiral da Existência, realizados nas passagens naturais do tempo: ciclos, jornadas, meses, estações e anos. Os fiéis caminham lentamente em espiral até o centro do Círculo, entoando o Canto da Adormecida, cuja melodia imita sons serenos do mundo natural. No ápice do rito, são oferecidas sementes, pedras ou objetos simbólicos para que a Deusa Mãe os receba e abençoe.
Esse gesto de troca também se faz em um ritual silencioso conhecido como A Devolução. Nele, cada participante enterra algo que precisa entregar à Asgalon: dores, memórias, promessas quebradas. Sobre o local, planta-se algo vivo, marcando o renascimento.
A devoção é expressa também por diversos gestos. O mais sagrado entre eles é chamado de o Sopro da Mãe. Consiste em colocar as duas mãos suavemente sobre o ventre, com os dedos voltados para dentro, olhos cerrados e efetuar uma respiração profunda. Esse gesto representa a vida invisível que cresce no escuro, e é usado para oração, silêncio ritual ou votos importantes. Diz-se que nenhuma mentira resiste a quem fala após fazer o gesto.
Irmandade da Carne Primeva
“A Criação sangra, e nós ouvimos o grito.”
Entre os fiéis mais radicais de Asgalon, há um grupo que não busca templos e nem textos sagrados — apenas ação. A Irmandade da Carne Primeva é uma ordem não reconhecida pelo Círculo de Asgalon, muitas vezes chamada de culto ou seita, cujos membros extrapolam na crença de que a Matéria é a carne viva de Asgalon, e que toda forma de profanação ambiental é um ferimento literal no corpo da Sobrepoder. Onde civilizações constroem, a Irmandade derruba. Onde a indústria mina o solo, eles sabotam.
A Irmandade age em silêncio, em bandos pequenos, usando táticas de guerrilha, disfarce e sabotagem. Seus membros raramente se identificam, mas são reconhecidos por tatuagens ritualísticas que imitam veios de raízes. Muitos usam máscaras entalhadas em madeira viva, ou carapaças ressecadas de criaturas mortas em Zonas Primordiais, como símbolos de luto e fúria.
Seus rituais envolvem a devolução de corpos à terra, o cultivo de sementes em ossos e a destruição cerimonial de artefatos considerados profanos — principalmente cristais de mana extraídos “contra a vontade da Criação”. Para eles, não há diferença entre um mago que drena um Campo de Mana e um açougueiro arrancando carne viva de um animal sagrado.
A Irmandade da Carne responde apenas à vontade sentida — não dita — de Asgalon. Seus líderes, chamados Oráculos da Carne, afirmam sonhar com tremores, incêndios e inundações, como se fossem suspiros da própria carne do mundo. E a cada novo sussurro, a ordem se move, invisível, inevitável e brutal.
Classificação de Poder:
Sobrepoder.
Morada Divina:
Mundo de Asgalon.
Aspectos Primordiais:
Títulos:
Sobrepoder.
Morada Divina:
Mundo de Asgalon.
Aspectos Primordiais:
- Crescimento
- Definhamento
- Criação
- Destruição
- Imanência
- Transcendência
- Matéria
- Vontade
- Vida
- Morte
Títulos:
- Aquela Que Tudo Criou
- Adormecida
- Deusa Mãe
- Sopro da Criação
- Totalidade
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