Aparência
A Máscara da Verdade
Mil formas deslizam,
cada uma quase real —
todas se desfazem.
— Kwok eNanada Se-Yeon, Primeira Sábia da Fonte
Governantes: Exuberantes.
Nome dos Subplanos: Bolsões.
Nome dos Habitantes: Fásicos.
Criaturas Exclusivas: Fadas.
Entre o que é e o que parece ser, há um plano onde tudo se dobra à percepção.
A Aparência é o Reflexo que está sobreposto à Sombra e que a penetra em infinitos pontos ligando-se à Matéria. No entanto, não há conexão entre a Aparência e a Sombra e para se ir de um plano para o outro, é necessário se passar pelo plano dos mortais.
Segundo medições encontradas no Códice de Todos os Poderes, o tempo na Aparência passa 343 vezes mais rápido do que na Matéria. Um único dia equivale a um ano inteiro do mundo material. Esse fenômeno confunde e desafia aqueles que tentam explorar esse Reflexo. Viajantes que ousam entrar no plano podem retornar ao seu plano de origem após poucas semanas e descobrir que passaram-se décadas. Alguns buscam manipular o fluxo acelerado do tempo para se tornarem mais sábios, ou até mais poderosos. No entanto, os que prolongam sua estadia, frequentemente se perdem no desgaste do tempo, tendo suas identidades diluídas ou distorcidas.
A Aparência é o domínio do simbólico, do transitório, da estética elevada à condição de realidade. É um plano instável, sonhador, onde forma e função são ditadas por emoção, mito, desejo e arte. Seus territórios, embora delimitáveis por momentos ou impressões, não seguem uma geografia racional: um vale pode ser tão vasto quanto a saudade de alguém ou tão pequeno quanto um suspiro de dúvida. Cores mudam com a intenção dos olhares. Estradas se embaralham caso não se deseje realmente chegar ao destino. Palácios inteiros desaparecem se forem esquecidos e cidades podem surgir em uma noite caso alguém sonhe com força suficiente. Na Aparência, realidade é matéria maleável.
O plano é dividido em bolsões, domínios conceituais, cada um governado por um Exuberante, um dos Primogênitos da Criação. Os Exuberantes não são Deuses, mas manifestações conscientes de aspectos essenciais do próprio tecido da realidade: Movimento, Tempo, Feminilidade, Trevas dentre outros. Eles moldam seus reinos com base nesses conceitos — e os moldes mudam tão facilmente quanto os humores de um poeta ou os caprichos de um sonho. É um plano perigoso não por sua hostilidade direta, mas por sua capacidade de seduzir, de substituir o real pelo desejado e tornar a ilusão mais convincente que qualquer verdade. Muitos sábios de Panorica alertam: quem passa tempo demais neste plano corre o risco de esquecer o próprio nome — ou trocá-lo por algo mais belo.
Em certos pontos, a Aparência é tênue como um véu, influenciando sonhos, inspirações artísticas ou surtos de loucura. Em outros, é tão densa que se torna quase sólida, dando origem a fortalezas de papel, bosques de vidro ou oceanos que cantam ao pôr de Sandall.
Dentro da Aparência, existe um lugar peculiarmente sagrado e misterioso conhecido como Dreondach, a "Terra dos Sonhos". Este é o domínio das almas que abandonaram os corpos mortais durante o sono, um local onde o tempo e o espaço se dobram e as realidades são moldadas pela força do subconsciente coletivo. Nas profundezas de Dreondach, as almas podem experimentar realidades alternativas, confrontar seus maiores medos, fantasias ou, simplesmente, descansar, até o momento em que a vida os chame novamente. Os mortais cujas almas adentram esse espaço entram em um estado suspenso onde a linha entre vida e morte se desfaz temporariamente.
Muitos conjuradores arcanos e primordiais tentam evocar partes da Aparência para criar ilusões ou encantamentos poderosos. Os mais ousados — ou tolos — buscam cruzar suas fronteiras, seja para firmar pactos com entidades fásicas, seja para esconder fragmentos de sua alma entre os sussurros do plano.
Na Aparência, nada é apenas o que é. Cada coisa pode ser também o que parece, o que já foi, o que deseja ser ou o que alguém teme que se torne.
Habitantes da Aparência
Habitam a Aparência entidades que os mortais tendem a agrupar sob o nome de fásicos. Estes habitantes são tão variados quanto os pensamentos que os geraram: criaturas feitas de riso, folhas, perfume, memórias ou trechos de canções esquecidas. Ainda assim, possuem culturas, propósitos, reinos e guerras — mesmo que suas lógicas escapem à razão linear dos planos materiais.
Bestas
Ferocidade com forma sonhada ou ternura em carne de engano.
As bestas da Aparência são animais tocados por conceitos e emoções, como se a ideia de “predador elegante” ou “presa adorável” tomasse vida. Muitas lembram criaturas da Matéria, mas com alterações simbólicas: um veado sem sombra, um lobo que só ataca quem o teme, um corvo que sussurra o nome de quem olha. Diferente das bestas comuns, são sensíveis ao pacto e ao nome — e alguns podem até falar. Seus manalis são instáveis, moldados por como são percebidas ou lembradas.
Fadas
Belas e perigosas, como flores venenosas.
As fadas são encarnações conscientes da emoção e do simbolismo, variando de minúsculos brilhos alados a majestades imortais de beleza insuportável. Toda fada encontrada em qualquer plano tem ligações com a Aparência. Vivem segundo códigos próprios e quase incompreensíveis aos mortais, sendo regidas por regras que misturam etiqueta, dívida, identidade e poesia. Barganhas com fadas são infames por seus efeitos ambíguos — nunca quebram uma promessa, mas raramente cumprem como se espera. As fadas podem ser imensamente poderosas ou quase inofensivas, mas sempre encantadoras e perigosas. Seu manali pulsa com as emoções do entorno, sendo difícil para elas permanecerem por muito tempo na Matéria sem efeitos colaterais — tanto nelas quanto no mundo.
Gigantes
Encontrar um deles é como testemunhar uma metáfora ganhar vida.
Na Aparência, os gigantes não são apenas criaturas de grande estatura — são ideias amplificadas até tomarem forma: um orgulho tão vasto que virou carne; uma dor tão densa que virou montanha; uma beleza tão absoluta que ganhou pernas e voz. Em geral reinam sozinhos sobre regiões que refletem suas essências. Um gigante que encarna o arrependimento pode habitar uma planície onde tudo retrocede. Há quem diga que alguns deles foram, um dia, mortais que se perderam na própria obsessão e foram absorvidos pelo plano até se tornarem parte dele. Outros creem que são fragmentos esquecidos dos Deuses, manifestos de emoções primordiais.
Monstruosidades
Criaturas que não deviam existir e, por isso mesmo, existem.
As monstruosidades da Aparência são seres que nascem do inconsciente coletivo, de medos enterrados ou desejos reprimidos que ganham vida entre os véus do plano. Não seguem nenhum padrão biológico. Algumas são criações espontâneas — pensamentos não ditos que tomam forma. Outras são nascidas da vontade dos Exuberantes, feitas para proteger, punir ou decorar. Seus manalis reagem de forma instável à presença de mortais: alguns absorvem emoções, se alimentam de lembranças ou se nutrem apenas de ser vistas, aumentando de tamanho conforme ganham atenção.
Plantas
Flores que cantam, vinhas que lembram, raízes que barganham com o vento.
As plantas da Aparência não obedecem à lógica da fotossíntese ou da germinação. Crescem de ideias, sentimentos, memórias — como um lírio que floresce só em despedidas ou uma árvore que só cresce onde houve traição. Algumas são sencientes e movem-se com graça animal, outras cantam melodias que induzem sonhos ou pesadelos. Muitas dessas plantas possuem manalis.
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