Sobrepoderes
Arquitetos da Criação
Sobrepoderes pairam até sobre aqueles adorados.
Nomináveis, sem rosto, sem tempo, sem fim e sem princípio.
Não reinam — são o próprio pulso que mantém o real desperto.
Onde há forma, há seu ser; onde há caos, repousa seu silêncio.
São vontades que moldaram a teia sem intenção ou glória.
Quem ousou buscá-los perdeu-se, pois não se conquista o eterno.
São um só ou são muitos? Só o vazio conhece a resposta.
— Dwali "Escriba" Gamilîm, Artefateiro da Oficina Rochosa de Azan
Acima dos Primogênitos e dos Erros da Criação, há potências que não cabem em doutrinas ou sistemas religiosos: os chamados Sobrepoderes. São as consciências — ou forças — que deram origem à própria realidade, os primeiros moldadores da existência, de onde surgiram os Deuses Justos, os Corrompidos, os Exuberantes e os Soberanos Primordiais. Se os Primogênitos são os senhores dos Reflexos, os Sobrepoderes são os arquitetos da Criação.
Esses entes não regem domínios, não exigem culto nem respondem a preces. Sua ação não é compreendida como vontade, mas como princípio. Sua manifestação não se traduz em forma, mas em possibilidade. Para muitos estudiosos, os Sobrepoderes não são seres no sentido convencional — são ideias que se movem, conceitos que respiram, ordens cósmicas que precedem e sustentam tudo. Sua potência não conhece limites, pois possuem controle sobre diversos Aspectos Primordiais da existência.
Em Panorica, apenas um Sobrepoder é conhecido com nome e identidade: Asgalon, Aquela Que Tudo Criou, entidade primeira que deu origem à Matéria e aos demais Reflexos. É a partir de Asgalon que os próprios Deuses surgem, como centelhas que se desprendem da forja do ser. Mas se há um, pode haver outros. Cultos extintos, grimórios interditados e murmúrios entre aqueles considerados loucos sugerem a existência de outros Sobrepoderes, banidos ou adormecidos para além do Vazio — forças que jamais foram nomeadas, mas talvez ainda observem, sonhem ou conspirem.
Mesmo entre os arcanistas e teólogos mais ousados, a investigação dos Sobrepoderes é uma fronteira perigosa. Estudar Asgalon já é um risco; cogitar o que poderia existir fora do alcance da Criação é mergulhar em abismos que podem olhar de volta. Ainda assim, todo mapa do divino exige traçar os limites do possível — e reconhecer que, além deles, pode sempre haver algo maior.
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