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Sombra

O Refluxo da Vida


Reflexo quebrado,
vozes choram sem começo,
tudo se repete.


— Kwok eNanada Se-Yeon, Primeira Sábia da Fonte


Governantes: Exuberantes (especulação).
Nome dos Subplanos: Bolsões.
Nome dos Habitantes: Refluxos.
Criaturas Exclusivas: Mortos-Vivos.

A Sombra é o plano imediatamente sobreposto à Matéria, um reflexo turvo e indeciso onde a luz morre em silêncio e o tempo hesita. Para os acadêmicos de Londorwin, ela é a Penumbra da Verdade; para os xamãs das Terras Alagadas, é o Eco dos Mortos. Mas entre todas as tradições, um consenso se mantém: a Sombra é o véu entre a vida e o que vem depois — um espelho estilhaçado que imita o mundo material sem jamais tocá-lo plenamente.

Não há um consenso sobre quem são os governantes da Sombra. Nem mesmo se esse Reflexo está sujeito ao domínio de algum dos Primogênitos da Criação. O que a maioria dos Círculos Druídicos de Panorica especula é que existem nove Exuberantes apagados da memória que tomaram a Sombra como lar e que faz parte do desejo coletivo desses seres permanecerem esquecidos.

Os estudiosos afirmam que tudo o que vive, ao morrer, atravessa brevemente a Sombra. No entanto, nem todos partem. Almas que mantêm elos não resolvidos com a Matéria — por afeto, ódio, promessa ou sacrifício — tornam-se prisioneiras da Sombra, vivendo ecos repetidos de suas existências passadas, como se estivessem presos em um sonho que não sabem estar sonhando. A essas presenças chama-se coletivamente de refluxos: consciências quebradas que habitam um mundo cinzento, desconexo e mergulhado em dor.

Com o passar dos séculos, muitos desses refluxos se deformam. Perdem traços, memórias, nome e voz, transformando-se em sombras de si mesmos — literalmente. Tornam-se aparições indistintas, vagando por um mundo onde as formas são frágeis e o real se dissolve. Alguns, contudo, desenvolvem novas consciências fragmentadas, odiosas ou famintas, e passam a buscar algo na Matéria que alivie a dor constante que os atravessa como uma segunda pele. Esse fenômeno é a base das chamadas manifestações fantasmagóricas: quando um refluxo ou entidade deformada encontra um ponto fraco entre os planos e atravessa para o mundo dos vivos.

O tempo na Sombra não se move em linha reta. Diz-se que ali tudo ocorre num eterno entardecer — um único dia que nunca termina, uma repetição de momentos parciais. Locais da Matéria aparecem ali como réplicas espectrais, sobrepostos a névoas e ruínas, e às vezes se movem ou mudam sem aviso. Os que viajam pela Sombra relatam que é impossível manter direção por muito tempo: memórias se confundem, emoções são amplificadas, e até mesmo o próprio corpo começa a se esvanecer. Poucos retornam sem marcas — e muitos jamais retornam.

A interação entre os planos é notavelmente mais tênue aqui do que em qualquer outro Reflexo da Matéria. Locais de sofrimento intenso, mortes violentas ou promessas não cumpridas tendem a criar Pontos de Ruptura naturais, e é por esses que os refluxos se insinuam. Alguns oráculos dizem que a Sombra é, na verdade, o primeiro julgamento — e que a dor dos refluxos é a lembrança do que eles falharam em fazer, ou deixaram por fazer. Outros acreditam que não é punição, mas um eco natural da existência, um custo do próprio livre-arbítrio.

A tradição diz que não há construções sólidas na Sombra, nem cidades vivas — mas há lugares fixos, como torres invertidas feitas de memória, campos onde almas murmuram eternamente ou palácios construídos com os nomes esquecidos dos mortos. A geografia do plano é instável, mas cheia de símbolos: cada espaço ali parece conter um significado, como se a própria Sombra fosse feita de metáforas densas demais para os vivos compreenderem.


Habitantes da Sombra


Os habitantes da Sombra são, em sua maioria, ecos do que um dia existiu. Eles não nascem, não crescem, e não morrem da forma como os mortais compreendem. São chamados coletivamente de refluxos pelos nativos da Matéria, que os separam em categorias idênticas às utilizadas para se compreender os seres mortais.
 

Bestas


Não nasceram aqui. Apenas não conseguiram partir.

São os animais que existem na Matéria e que, por múltiplas razões, foram arrastados para a Sombra. Alguns foram mortos com violência e voltaram de forma incompleta. Outros acompanharam seus donos, ou foram chamados por rituais. Muitos perderam forma e propósito, tornando-se versões vagas, esfumaçadas e famintas do que já foram. Ainda respondem a instintos — mas instintos corroídos pelo desespero. Reagem ao medo e à dor como se fossem sensações eternas. Alguns agem como se estivessem presos a um momento específico: o último.
 

Dragões


Guardam sonhos tão antigos que se tornaram pesadelos.

Raros e imensamente perigosos, os dragões que habitam a Sombra são versões distorcidas de seus irmãos da Matéria. Diz-se que surgem quando um dragão morre sem propósito, com o coração afogado em arrependimento, ou quando permanece séculos contemplando a Sombra. Suas presenças alteram o tempo e a luz, criando espaços de loucura e fascínio. Diferente dos outros refluxos, eles não repetem memórias: sonham-nas, recriam-nas e as impõem sobre o ambiente. Seus manalis são ofensas frente ao seu propósito original, mas ainda poderosos.
 

Fadas


Beleza que esqueceu o que era para lembrar.

Desviadas da Aparência, quando um lugar amado é destruído, ou quando um amor morre sem se cumprir, a Sombra pode capturar uma dessas entidades. São seres que perderam completamente o sentido de sua origem, tornando-se cruéis, vingativas ou perversamente lúdicas. Dizem que ao encontrar uma dessas fadas, o mais perigoso não é o feitiço que ela pode lançar, mas o desejo profundo de acreditar que ainda há algo puro em sua presença.
 

Humanoides


Vestem a memória como se fosse pele.

Não existem humanoides verdadeiramente nativos da Sombra. Aqueles que nela habitam, são distorções antigas de seres vindos de outros planos. Na Sombra, os humanoides são definidos por ecos persistentes de outras vidas, nem sempre suas. São fragmentos de identidade presos entre lembrança e repetição. Alguns começam a adquirir consciência da prisão em que vivem e enlouquecem. Há raros que despertam completamente — tornando-se agentes de tragédia ou redenção entre os planos. Esses são refluxos mais coesos, chamados de recordantes.
 

Mortos-Vivos


O mundo os esqueceu. Eles não retribuíram o favor.

São os verdadeiros habitantes da Sombra, nem vivos e nem mortos. Uma existência dúbia e dolorosa. Alguns não aceitam que morreram. Outros recusam-se a descansar. E há os que jamais foram vivos para começar. Um pequeno número são conscientes de sua condição, enquanto que outros são arrastados pela dor, loucura ou repetição. A dor é constante — um ruído de fundo que marca sua existência, e que em alguns casos os impulsiona a cruzar para a Matéria. Não importa onde um morto-vivo esteja ou onde seja criado, sua essência sempre está conectada à Sombra. Não possuem manalis verdadeiros, mas são alimentados por essências arcanas, divinas ou naturais dependendo de sua origem.


Cover image: Mapa do Continente de Panorica em 1500 I.J. by Mateus Buffone

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