PARA: Conselho de Astrea, Domínio Alessiano
DE: Legado Felices Pelinal, comandante da III Legião Alessiana, "Lança Escarlate"
DATA: 14 de Cassiopéia, Ano das Garças Azuis, 271 3E
LOCALIZAÇÃO: Planícies a leste do Lago Asta,
Condado de Alma
ASSUNTO: Engajamento e vitória custosa contra hoste lerionense. Análise de nova ameaça tática.
Ao amanhecer, nossas forças tomaram posição nas suaves elevações que descem em direção à margem do sagrado Lago Asta. A névoa matinal que subia da água nos concedeu cobertura inicial. A III Legião foi disposta na tradicional formação triplex acies:
- Primeira Linha: Quatro coortes de Segundos (II, III, IV, V), jovens, mas ansiosos.
- Segunda Linha: Três coortes de Primeiros (VI, VII, VIII), nossos veteranos mais sólidos.
- Terceira Linha (Reserva): Duas coortes (IX, X) e a elite da I Coorte, sob comando direto do Tribuno Selius Aquila, posicionada ligeiramente à nossa direita, usando uma crista no terreno para ocultar sua força total.
O inimigo avançou a partir das florestas a leste. Eram mais numerosos do que nossas patrulhas estimaram – calculo uma força de ao menos dez mil. Sua organização era, de imediato, perturbadora. Não era a horda caótica de outrora. Marchavam em uma colossal e profunda falange, uma muralha de escudos rústicos e lanças longas. Orcs formavam o centro pesado, flanqueados por regimentos mais ágeis de lupinos e goblinoides. Sua disciplina era visível; o avanço era constante, acompanhado por um cântico de guerra gutural que ecoava sobre o lago.
A falange lerionense avançou com uma velocidade aterradora. Mantivemos a posição até que estivessem a trinta passos. Ao som da trompa do Córnico, a primeira linha inteira lançou sua saraivada de pilos. O céu escureceu momentaneamente. O efeito foi o esperado e devastador. Centenas de escudos de madeira e couro foram perfurados, as hastes de ferro entortando com o impacto e tornando-os pesados e inúteis, forçando seus portadores a descartá-los. Outros, com escudos mais frágeis, tiveram a arma e o braço atravessados. Uma brecha de sangue, aço e gritos se abriu em sua vanguarda.
Imediatamente após a segunda saraivada, ordenei o avanço. Os Segundos desembainharam seus gládios e correram para explorar a desordem, chocando-se contra a parede de lanças já enfraquecida. A carnificina inicial foi imensa. O gládio, em combate próximo, provou sua superioridade contra as lanças longas e desajeitadas, uma vez que a primeira barreira era rompida.
Aqui, a engenhosidade do inimigo se revelou. Em vez de quebrar sob a pressão, o centro da falange orc começou a ceder de forma controlada, recuando lentamente. Meus Centuriões, ávidos pela vitória, pressionaram o avanço, empurrando nossas coortes para dentro da formação inimiga. Era uma isca.
Quando nossas duas coortes centrais estavam mais engajadas, os flancos da falange – compostos por lupinos e goblinoides velozes – pararam de recuar e começaram a girar para dentro, como as mandíbulas de uma fera. Eles não tentaram uma manobra de flanco ampla, que seria visível, mas uma compressão metódica, buscando esmagar nossas legiões por dentro. Percebi a armadilha no instante em que o Tribuno Selius gritou um aviso. Estávamos sendo engolidos.
Foi a disciplina férrea que nos salvou. Ao meu sinal, os Córnicos soaram o recuo tático para a rotação de linhas. Os Segundos, exaustos e sofrendo pesadas baixas, recuaram ordenadamente através dos vãos abertos pelos Primeiros. Os veteranos avançaram com escudos travados, uma muralha de aço ceriano que estancou o movimento de pinça do inimigo. A batalha se tornou um brutal moedor de carne, com nossas linhas se mantendo por pura coragem e treinamento.
A pressão numérica dos lerionenses era esmagadora. Mesmo com a superioridade de nossos veteranos, estávamos perdendo terreno, passo a passo. O flanco esquerdo, comandado pelo Centurião-Mor Valerius da VII Coorte, estava perto de entrar em colapso.
Este era o momento decisivo. Ordenei ao Tribuno Selius que revelasse sua força. A I Coorte, nossa elite, marchou por trás da crista do terreno e avançou não contra o flanco inimigo, mas em um ângulo agudo, diretamente para a retaguarda exposta onde parecia estar o comando lerionense – um grupo de xamãs orcs e um chefe lupino gigantesco ao redor de um estandarte grotesco.
O impacto da melhor coorte da Legião na retaguarda inimiga foi cataclísmico. O comando lerionense, antes tão focado em sua armadilha, foi pego de surpresa. O Tribuno e seus homens abriram um caminho sangrento. No entanto, a resposta inimiga foi, novamente, surpreendente. Em vez de uma rota de pânico generalizada, um regimento de elite de orcs com armaduras pesadas se virou e formou uma linha defensiva desesperada, sacrificando-se para dar tempo ao resto de seu exército.
Eles não fugiram. Eles realizaram uma retirada organizada, sob constante pressão de nossas forças. Deixaram o campo de batalha, mas não seu orgulho.
Conclusão
Mantivemos o campo e as margens do Lago Asta estão seguras. A vitória é nossa, mas o preço foi terrível. As baixas da III Legião foram as mais altas em uma única batalha em décadas. Recolhemos nossos mortos e honramos o sacrifício deles.
Contudo, a minha preocupação como Legado supera o alívio da vitória. O exército que enfrentamos hoje não é o mesmo que combatemos por séculos. A hoste lerionense demonstrou a capacidade de manter a coesão e executar manobras complexas como a falsa retirada e a tentativa de envelopamento. As ordens foram transmitidas rapidamente, mesmo no caos da batalha, e a formação de uma retaguarda para permitir uma retirada organizada é um sinal de um exército profissional, não de uma horda bárbara.
Existe uma nova mente por trás de nossos inimigos. Uma inteligência estratégica que aprende, se adapta e une os povos bestiais sob uma única e perigosa bandeira. Ganhamos a batalha, mas tenho o pressentimento inquietante de que esta foi apenas a primeira página de um novo e muito mais sangrento capítulo na longa guerra entre Ceres e Leriones.
Recomendo vigilância máxima em todas as fronteiras. O inimigo mudou. Precisamos mudar também.
Assinado,
Felices Pelinal,
Legado da III Legião "Lança Escarlate"
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