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A Noite da Lua Escarlate

Um dos dias mais tristes da história de toda Santira, a Noite da Lua Escarlate foi um evento misterioso. Começou como uma noite normal, como qualquer outra, até que, de repente, a lua começou a sangrar. Sem dar tempo para as pessoas entenderem o que estava acontecendo, uma chuva escarlate começou a descer dos céus, transformando todos tocados por ela em criaturas da lua, como lobisomens e vampiros. Essas pessoas transformadas perderam todo o controle sobre seus corpos, com uma única vontade ficando em suas cabeças: "Fome".

 

"Eu... não consigo olhar para ele. O homem que eu amava, que prometeu nos proteger, se transformou naquela coisa. Ele... ele matou nosso filho, agora quando olho para ele só vejo o monstro que a lua o fez."

-Esposa de um dos afetados pela Lua Escarlate no enterro de seu filho.

  Inumeros relatos desta noite existe mas o que ficou mais famoso foi o de um caçador de monstros aposentado que presenciou os efeitos em primeira mão, o seguinte relato foi deixado por ele:   "Eu estava voltando da feira quando tudo começou, comprando ingredientes para o aniversário da minha filha. Eu andava pela rua quando notei tudo começar a ficar levemente vermelho. Quando olhei para cima... a lua havia começado a sangrar. Não era sua rara lua vermelha, mas sim sangue, escorrendo de toda parte dela.   No começo, as pessoas saíram correndo de suas casas para ver o que estava acontecendo, mas esse foi o pior erro que poderiam cometer. Apenas três minutos após a lua começar a sangrar, uma chuva começou a cair, e não era uma chuva normal. Era vermelha, viscosa, como sangue, mas isso só ficou claro quando já estava atingindo as pessoas. Primeiro veio o nojo, com muitos vomitando pelas ruas enquanto eram banhadas pelo líquido. Em seguida, a dor tomou conta de todos. Eu, que consegui me abrigar em um lugar fechado antes da chuva começar, ainda pude ver e ouvir a agonia daqueles que não tiveram a mesma sorte. Seus ossos quebravam e se realocavam, suas peles rasgavam e eram substituídas por um couro grosso ou carne necrótica, enquanto o horror tomava conta de tudo ao meu redor.   No fim, os gritos daqueles atingidos pela chuva foram trocados pelos dos que haviam conseguido fugir dela, enquanto viam amigos e familiares se transformarem naquilo — criaturas da Lua. Mas essas não eram como as que eu caçava quando era mais jovem. Eram diferentes, mais primais, mais violentas. Um ótimo exemplo foram os que se transformaram em vampiros, criaturas normalmente inteligentes e "requintadas". As daquele dia eram muito diferentes: tinham uma pele necrótica, quase podre, e agiam com uma agressividade incontrolável, colocando até sua própria segurança em risco apenas para conseguir algum sangue.   Eu corri assim que vi a chuva parar. Tudo o que eu conseguia pensar era em chegar em casa, em proteger minha filha. eu não estava com minhas armas, as havia aposentado a anos num bau debaixo da minha cama tudo o que eu tinha comigo era minha adaga de prata, o caminho de minutos até minha casa agora pareciam horas enquanto eu corria, dava para ouvir os gritos de dor e pedidos de ajuda daqueles que estavam sendo atacados, eu os ignorei, fico até hoje ouvindo essas pessoas nos meus pesadelos mas tinha algo mais importante na minha mente naquele momento.   Quando finalmente cheguei em casa, entrei correndo, com o coração aliviado ao ver que ela ainda estava inteira e a casa trancada. Subi as escadas gritando pela minha filha, mas, ao chegar à porta do quarto dela, soube que algo estava errado. A primeira coisa que entregou isso foi aquele cheiro metálico de sangue que enchia o ar. Quando entrei no quarto, vi a janela aberta e aquela chuva vermelha espalhada pelo chão.   Pânico tomou conta de mim. Eu estava quebrado, de joelhos, com medo do que poderia ter acontecido. Meu desespero só foi interrompido quando ouvi um rosnado vindo de trás de mim. Quando me virei, eu a vi. Minha pequena garotinha... mas ela não era mais a mesma. Sua pele estava coberta por um pelo grosso, e seus olhos brilhavam com uma luz escarlate. Ela olhava para mim, mas não me reconhecia. Tudo o que via era a presa que havia invadido a casa.   Num instante, ela pulou em mim. Por instinto, puxei minha adaga para me defender, cortando o couro grosso de seu braço. Seus gritos de dor eram como facas no meu coração. Eu tentei correr e trancá-la no quarto, colocando toda minha força para segurar a porta, mas de nada adiantou. Suas garras cortavam a madeira como se fosse papel. Corri para o meu quarto, tentando lutar contra meu instinto de sobrevivência. Eu não queria machucá-la, mas meu corpo estava agindo sozinho. Eu... eu não conseguia pensar direito.   Com os poucos segundos que tinha, puxei meu antigo baú debaixo da cama e comecei a carregar meu rifle. Os sons dela avançando pelo corredor ficavam cada vez mais altos. Minhas mãos estavam trêmulas, lentas. Não fui rápido o suficiente, e ela chegou primeiro. Só tive tempo de vê-la pulando em mim antes de sentir suas garras rasgarem meu rosto, cortando meu olho. A dor era excruciante. Com o que restava de força, a joguei contra a parede, terminei de carregar o rifle e atirei.   O corpo dela caiu duro contra o chão. Tentei mirar em algum lugar não vital, mas, com meu olho cortado, não tinha certeza. Eu a amarrei na cama e tratei seus ferimentos. Aquela foi a noite mais longa da minha vida. Não sabia se ela iria sobreviver, se voltaria a ser ela mesma, mas já tinha feito tudo o que podia.   Em algum momento, desmaiei de exaustão. Nem havia cuidado dos meus próprios ferimentos. Acordei pelos berros dela. Quando o sol nasceu, vi seu pequeno corpo se quebrar e realocar, sua pele sangrando enquanto os pelos desapareciam. Ela tinha voltado ao normal, mas seus ferimentos continuavam lá. O que eu tinha feito continuava lá.   Meses se passaram, e o medo me consumia. Temia que, na próxima noite, ela se transformasse novamente, ou que aquela lua voltasse. Mas nunca aconteceu. Ainda assim, quando olho para minha filha, sinto a dor no seu coração ao ver a cicatriz no meu olho e, pior ainda, o medo que ela sente de ver seu próprio pai a caçando.   Hoje, toda noite, olho para a lua e me pergunto: o que aconteceu naquela noite? Foi uma punição divina? O plano de alguma criatura? Ou apenas um evento desconexo com o qual tivemos que sofrer? Mas, mais do que isso, ainda temo e pergunto: o que faremos se essa noite se repetir?"

Disseminação

Por mais que o dia seja de conhecimento geral, virou-se um tabu falar dele abertamente, mesmo sem haver uma punição para isso. Um consenso geral foi criado no mundo de tentar ignorar a existência deste dia e fazer o máximo para esquecê-lo, mas ainda assim muitos continuam a passar a história do dia, visando não esquecer as perdas que aconteceram e manter o conhecimento dele com medo de o evento um dia se repetir.

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